Eventualmente, caro amigo ornitófilo, terá
já convivido com esta terrível doença micótica, originada por fungos que se formam
pela excessiva humidade ambiente, deteriorando
as papas humedecidas, as sementes e outros
elementos componentes alimentares das nossas aves de cativeiro, e, por muitos
antibióticos que utilizemos, apenas um deles é eficaz - a Amfotericina B a 10%, que em
Portugal infelizmente não é comercializada, apenas utilizada em injectáveis
hospitalares.
Este componente farmacêutico (para humanos) é comercializado em Itália com
a denominação de FUNGILIN e em França com a designação de FUNGIZONE, sendo
administrado 14 dias, à razão de 1 ml por litro de água, ou uma a duas gotas por
bebedouro de 60 ml. Normalmente só se conseguem obter através de receita médica ou
veterinária dos mesmos países. É particularmente indicada também nas Candi-dioses e
outros fungos gastro-micóticos.
Sei também que no Brasil, têm utilizado, com êxito !? - a
Nistatina, comercializada com a denominação de MICOSTATIN,do mesmo laboratório
anterior, na mesma dosagem.
Há indicações da utilização em Espanha (e em Portugal) do
Ketoconazol, comercializado com a denominação de PANFUNGOL, mas, e por experiência
própria, sei ser apenas eficaz nas Candidioses.
Tive noção exacta de lidar com esta doença fúngica quando em finais de
1997 adquiri um casal de Frisados Parisienses, de origem Italiana, que me custaram uma
pequena fortuna, e que vinham já contaminados com a Proventriculite, em fase de
desenvolvimento.Como então desconhecia o fármaco atrás referido, apenas tive
oportunidade de utilizar um bom Probiótico (Fermentos Lácteos associados a cultivos
laboratoriais anti-fúngicos e anti-bacterianos), que, sabendo eu não ser a cura, mas sim
um bom preventivo, viabilizou a sobrevivência do casal por cerca de 2 meses, morrendo
então primeiro o macho, e 15 dias depois a fêmea, ambos num estado de magreza acentuada.
Esse estado de magreza deve-se ao facto de que o proventriculo das aves
(pequeno "tubo" de passagem dos alimentos, imediatamente após do papo), face
à ausência de enzimas ácidos, acaba por apresentar um pH neutro, inibindo desta forma a
actividade da pepsina, enzima gástrico responsável pela degeribilidade das proteínas,
pois só o consegue fazer em meio ácido. Na falta da absorção das proteínas ingeridas
na alimentação, as aves vão emagrecendo lentamente, até à morte.

Desde essa altura que tenho estudado a fundo este tema, quer em longas
conversas com o Mestre Manuel Gonçalves, que também teve já contactos com esta doença,
conseguindo o seu tratamento eficaz, com o fármaco atrás descrito, quer através da
análise estudiosa de pequenos artigos, desde a brochura dos Laboratórios Moureau
Ornithologie, distribuida pela Companhia Portuguesa de Higiéne, em escritos do grande
Ornitólogo D. Alfonso Babra Garcia, também do Dr. Santiago Noval Melian, juiz
F.O.C.D.E., pela Fundação Loro Parque, por Umberto Zingoni e ainda artigos esporádicos
em revistas Italianas, Brasileiras e Internet.
Alerta-me variadíssimas vezes o Mestre Manuel Gonçalves que, ao
contrário do que muitos criadores julgam, a maior causa de morte nos ninhos, e
posteriormente, é por causas fúngicas, e não pela Colibacilose, que actualmente é de
mais fácil prevenção e tratamento - e eu próprio tenho constatado isso, pelos sintomas
que detecto em queixas de elevadas mortes que tenho tido de muitos criadores.
De facto, esta terrível doença, que poderá "varrer" entre
55% aos 95% das ninhadas na época das criações, aparece nos filhotes como resultado da
faltas dos enzimas ácidos no Proventriculo, originando a sua inflamação, sendo então
visível o famoso "pontinho negro" do tamanho de uma cabeça de alfinete, sobre a
região do fígado - está assim praticamente desvendada a origem deste pontinho, que
muita mortalidade arrasta atrás de si.
Como poderão também eventualmente ter observado, este "pontinho
negro" aparecer mais quando os pais não dão comer, ou quando o dão mas apresentam
sintomas doentios. É que, como sabe o caro amigo leitor, as aves preparam no papo uma
papa especial onde produzem os tais enzimas ácidos necessários à sobrevivência dos
seus filhotes, e na ausência desta "paparoca", o filhote vai-se desta para...
pior. Daí, quando damos a "palitada" ou a "seringada", devemos
adicionar um Probiótico à papa de cria, fornecendo desta forma também aquilo com que o
Proventriculo irá produzir; os enzimas necessários a uma boa digestão das
proteínas -
afinal é tão simples não é !
- É como o Ovo de Colombo, que só nos lembramos quando os outros o dizem.
Claro que, normalmente à Proventriculite estarão já associadas
outras doenças "normais" das aves, como a Colibacilose, Salmonelose e Candida
Albicans, daí, será sempre necessário a associação de um triplo antibiótico, na papa
de criação, para completar a acção dos Probióticos, particularmente indicada aos
progenitores, afim de estes serem "limpos" de qualquer uma das doenças atrás
referida.
O QUE CAUSARÁ DE FACTO A PROVENTRICULITE ?
Em Itália a Proventriculite é conhecida pela "crise do
sétimo dia", causada eventualmente por uma megabactéria ou um microrganismo, ao
certo não se sabe ainda, mas ao que parece e por estudos mais recentes, esta
"moléstia" poderá estar condicionada pela MICLOPLASMOSE, que diminui as
resistências das aves abrindo caminho para a proliferação da suposta megabactéria.
Será bom recordar nesta altura que, a Micoplasmose abre caminho para um
indeternimado número de doenças, entre as quais a Coccidiose e a Salmonelose.
O Distinto Ornitófilo Dr. Santiado Noval Melian efectuou numerosas autopsias
a um grande número de aves, de cativeiro e outras silvestres que entretanto após o
cativeiro adquiriram também a proventriculite, e em todas encontrou sempre uma ou outra
bactéria diferente, associadas a esta terrível, digo novamente terrível doença,
encontrando de tudo, como:
- Salmonelas, colibacilos, pseudomonas, bacilos sereus etc.
- De fungos, encontrou candidas e aspergillius e de parasitários os coccidios,
toxoplasmas, ascaris etc.
Poderá o caro amigo leitor começar a tirar conclusões, que o
levarão com certeza a ter muito mais respeito por esta doença.
A Fundação Loro Parque, de Tenerife entende que esta enfermidade é
de tal ordem grave, e também particularmente para os Psitacídeos, que decidiu procurar
os melhores meios de prevenir e combater a doença, patrocionando um Grupo de
Investigadores de Enfermidades Orniticas da Universidade de Georgia nos E.U.A.
FALEMOS UM POUCOS DOS SINTOMAS MAIS USUAIS.
No embrião:
- Não é excluída a hipótese de uma forma congénita que cause a morte
embrionária (quando ainda no ovo) antes da eclosão.
Nos Filhotes:
- Nos filhotes, atrasa o crescimento;
- Apresentam o papo constantemente vazio, pois a mãe recusa-se a dar-lhes de comer,
sabendo que estes estão doentes;
- Muito excepcionalmente uma ou outra fêmea continuará a alimentar o filhote que esteja
contaminado;
- Face à desidratação provocada por uma forte dierreia, a pele dos filhotes fica seca e
progressivamente gretada;
- Observa-se uma inflamação intestinal aguda, permitindo constatar através da pele do
abdomem o proventriculo e a moela dilatados;
- Os intestinos adquirim uma coloração escura e os dejectos são verdosos e mal
cheirosos.
- Poderemos também observar nos filhotes afectados, que quando estão esticados a
pedir alimento, observa-se um movimento pendular rítmico que indica que o sistema nervoso
central também está afectado;
- No estado agudo, afecta o baço, tornando-se visível o clássico "pontinho
negro", inflama-se o fígado, a cloaca fica obstruída e os filhotes morrem podendo
presencear-se em pouco tempo um cheiro intenso de odor putrefacto.
Nas aves adultas:
- Poderá apresentar-se de forma sub-aguda, aguda e crónica;
- Geralmente as aves adultas morrem uns dias depois de se manifestar a doença, podendo
sobreviver ainda algumas semanas, cujos sintomas clínicos são:
- Perda progressiva de peso;
- Delgadez e peito em quilha (faca);
- Embolamento e diarreia com dejecções abundantes serosas e mucosas;
- Inflamação proventricular e intestinal;
- Respiração ofegante e aumento destensivo do abdomen;
- Descoordenação funcional, movimentos anormais e irregulares da cabeça,
- Movimentos descoordenados e prisão muscular das patas, sintomas estes que constatam que
esta enfermidade também afecta o sistema nervoso central.
Claro será que em uma só aves estes sintomas não se
manifestam todos em conjunto, poderá observar-se uma grande parte deles ao mesmo tempo.
Deverá o caro amigo leitor ser alertado para o facto de que, a
Proventriculite, na maioria dos casos aparece de "mansinho", isto é, raramente
aparecem casos de uma intoxicação rápida e mortal.
O mais frequente são as intoxicações crónicas, que na sua forma
mais benigna aparece sem qualquer sintomatologia, normalmente produzem "apenas"
esterilidade.
É o caso das aves que colocam ovos claros vezes e vezes seguidas, sem
encontrarmos motivos e respostas para isso.
Posto isto, e como não existe ainda qualquer vacina preventiva,
esperando que não demore muitos anos, apenas nos resta ...
PREVENIR, e como:
- Usando sempre e somente uma boa mistura de sementes e papas que nos possam
garantir serem o mais frescas possíveis;
- As sementes devem estar sempre limpas, isentas de pó, testar assiduamente
as sementes
através da germinação; semente que não germine, não está fresca; semente que não
seja brilhante, não está fresca; casca interior da semente que esteja escurecida, não
está fresca;
- Evitar que as aves comam sementes do fundo das gaiolas, pois estas estão contaminadas
com toda a espécie de germens;
- Evitar que as sementes e papas estejam guardados em ambientes húmidos e/ou muito
quentes, pois favorece o desenvolvimento dos gérmens;
- Cuidado com as sementes germinadas, sobretudo em climas muito quentes e húmidos, pois
desenvolvem muitas toxinas e fungos patogénicos. Só utilizar de boa qualidade, colocando
umas gotas de iodo na água de germinar, não deixando demasiadas horas, lavando-as muito
bem;
- São protectores contra as toxinas as verduras (sem pesticidas), as algas e o cálcio;
- Utilização de protectores hepáticos;
- Utilização assídua de Probióticos com propriedades anti-fúngicas e
anti-bacterianas, alternando com um laxante suave, tipo sal de fruta;
- Não humedecer mais que 20% (de humidade relativa) as papas, não deixando estas mais
que 2 ou 3 horas à disposição das aves.
- Ter sempre à disposição grit e carvão vegetal;
- E, cuidado com as sementes gordas !!! (Colza, Nabo, Cânhamo, Niger, por exemplo.)
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Retirado do Catálogo da Exposição Ibérica de Ornitófilia Gaia'98,
com autorização do autor
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